


(Sabrina Barrios. Estação Portal, 2022. linhas e luz UV. Estação Ferriviária de Sorocaba)
Em toda encruzilhada, um portal.
Ywy Tsoró, “terra dividida” na língua tupi-guarani, foi território que localizava uma diversidade de etnias indígenas, pela qual era atravessada por um caminho milenar chamado Peabiru, responsável por interligar o litoral paulista com Cusco, no Peru. O historiador Aluísio de Almeida já mencionava em seus textos a identificação desses povos no território de Sorocaba:
Os limites dos vários grupos tupí-guaranís, embora mais diluídos que as fronteiras estaduais, existiam. Sorocaba era, já então, uma encruzilhada aonde convergiam, por onde viajavam e se limitavam, os tupís do Tietê, os tupiniquins e guaianazes de Piratininga, os carijós dos campos de Curitiba, os guaranís do Paranapanema e outros guaianazes, talvez, das nascentes dêsse rio. (ALMEIDA, 1964, p.337)
De acordo com o sistema econômico da época do Brasil colonial, o país se enriquecia a partir da produção e exportação da cana de açúcar no Nordeste. Dessa forma, deslocado da participação econômica de exportação, a região do interior de São Paulo, focava as suas atividades econômicas por meio da venda de indígenas escravizados como forma de manutenção financeira, política, religiosa e territorial. Ou seja, ao se deparar com o caminho do Peabiru, os bandeirantes se aproveitaram para adentrar no espaço brasileiro como forma de conquistar novas aldeias, fundar vilas e escravizar indígenas para vendê-los e/ou usá-los como mão de obra. É dessa forma que o antropólogo Erik Petschelies, analisa a presença de uma grande diversidade de etnias na região de Sorocaba, por conta de sua concentração nas casas das famílias das quais possuíam estas pessoas escravizadas:
Dessa forma, essa ampla circulação de sertanistas sorocabanos e a importância da vila criaram um grande deslocamento de índios dessas variadas regiões (MT, MG, GO) para Sorocaba, e, portanto de diferentes etnias. Essa movimentação foi tão densa que a vila de Cuiabá foi fundada por dois sorocabanos: Manoel de Campos Bicudo e Pascoal Moreira Cabral. (PETSCHELIES, 2012, p.283)
Portanto, de acordo com as ações escravocratas de bandeirantes, um grande contingente de indígenas se concentraram na região da atual cidade de Sorocaba, tornando um território com uma diversidade cultural, ao mesmo tempo que fomentava esse mecanismo exploratório de povos. Dentre as principais etnias que aqui se encontravam, supõe-se – de acordo com algumas bibliografias – as seguintes: Gualis, Bororos, Parecis e Carijós (Guaranis).
A partir do século XVIII, inúmeros sorocabanos tornaram-se tropeiros, ao adquirir tropas no sul do país para revendê-las na feira de muares de Sorocaba, comerciantes que negociavam nas regiões que posteriormente formariam os Estados de Mato Grosso, Minas Gerais e Goiás ou buscavam descobrir ali ouro ou outras pedras, tornando Sorocaba logo no século XVII um importante local de acesso a diversas localidades no Brasil central. A região, portanto, desde seu início, sempre foi caracterizada como um ponto de encruzilhada, pela qual a confluência de povos, coloca em litígio, os espaços de existência dessas pessoas.
É de acordo com este histórico, e com este contexto que a artista Sabrina Barrios, propõe a execução de uma instalação na Estação Ferroviária Sorocabana. Ao encará-la como uma encruzilhada – local onde concentrava um contingente de pessoas que se deslocavam por diversos lugares do estado de São Paulo – a artista cria uma instalação por meio de linhas das quais constituem um símbolo indígena da união dos povos – como uma maneira de reconectar o histórico que a cidade traz pela movimentação de diversas etnias das quais constituíram o nosso passado.
ALMEIDA, A. de. Memória histórica de Sorocaba (I). Revista de História, v. 29, n. 60, p. 335-353, 1964.
PETSCHELIES, E. FRAGMENTOS DE HISTÓRIA: ÍNDIOS E COLONOS EM SOROCABA (1679 – 1752). Revista de Estudos Universitários – REU, Sorocaba, SP, v. 38, n. 2, 2012. Disponível em: https://periodicos.uniso.br/reu/article/view/1040. Acesso em: 26 set. 2022.