curadoria

Alexandre Silveira. “Condição de Chegada”, 2021

Condição de chegada

O caminhar é o espaço onde nos colocamos fora da palavra. Fora de qualquer etiqueta definidora. Corpo sem nome e sem identificação. Corpo sem história, sem órgãos, sem presença – puro movimento verbal. As condições de nômade, consiste na necessidade do ser humano em escapar da solidez determinante. Deslocar fisicamente, é também um ato de deslocar interno, que abala as estruturas da subjetividade na tentativa de sua própria recriação. É preciso assentir as palavras gravadas para que possamos enfrentar a superfície vazia. São a partir destas questões que encaramos a exposição Condição de chegada (2021) do artista Alexandre Silveira. 

Composta por palavras escritas em areia e duas placas de concreto com pegadas humanas ao centro, tem como característica geral, o contraste temporal entre o eterno concreto e a efemeridade granular. A escrita produzida pelo artista a partir de um fluxo mental, não traz a lógica linear recorrente dos textos, de modo que este ato presentifica-se como gesto estético, tratando o texto enquanto forma. Elas beiram o desaparecimento por meio da fragilidade material dos grãos de areia, o que torna contrário às convenções da escrita que associam a sua prática como um gesto de gravação, um gesto responsável em instituir uma memória, história ou arquivo. O artista nos apresenta um modo de escrita paradoxal da qual constitui uma memória por um lado, ao mesmo tempo que aceita sua condição de desaparecimento. 

A relação de contraste paradoxal entre as qualidades efêmeras e eternas na escrita, transbordam para as condições presentes no objeto localizado ao centro da instalação. A marca de uma pegada humana feita em concreto atua como vestígio de um corpo não presente pela qual a sua suspensão impede qualquer tipo de identificação. Esta lógica, é contrária às ideias trazidas pelos monumentos que intencionam a constituição de figuras heroicas por meio de sua materialidade sólida sobre pedestais. A partir desse conjunto proposto pelo artista na instalação, nos deparamos com o jogo antagônico entre memória e efemeridade – por meio de uma escrita paradoxal e um monumento de passagem, da descida do pedestal restando somente a marca de um corpo não mais presente. A condição de chegada, constitui como o território deslizante, espaço ativado pela memória, mas não condicionada a ela. Um declínio do Outro enquanto aquele que representava o lugar da norma rígida e da proibição moral,de modo que esta constitua a oportunidade de reconfiguração do nosso ser. 

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